A tecnologia tem transformado a sociedade em todos os âmbitos. Seja no setor econômico, político, social ou educacional, ela se expande rapidamente, trazendo benefícios e eficiência. Mas, muitas pessoas ainda resistem ao seu impacto por falta de acessibilidade, devido à baixa condição financeira, ou mesmo por tecnofobia, resultando em uma não capacidade de renovar as condições de vida.
Apesar das grandes revoluções causadas pelas Tecnologias da Comunicação e Informação na sociedade ainda é possível encontrar no ambiente escolar o tradicionalismo pedagógico. Educadores insistem no ensino como depósito de saberes em que o aluno não passa de mero receptor de conhecimentos, uma conta bancária (FREIRE, 1997).
E mesmo que existam profissionais que façam uso desses instrumentos em sala de aula, há um aspecto que deve ser observado quanto à implantação das tecnologias na educação: o conhecimento técnico e o pedagógico não devem acontecer de modo isolado.
É ilógico pensar em primeiro ser um especialista em informática ou em mídia digital para depois tirar proveito desse conhecimento nas atividades pedagógicas. Há consistência didático-pedagógica quando esses conhecimentos crescem simultaneamente, um demandando novas idéias do outro, pois dominar as técnicas é uma necessidade e exigência do pedagógico.
Sabendo utilizar a tecnologia com eficácia, o professor poderá conduzir seu aluno a refletir, aprender a pesquisar, comparar, depurar, formar idéias, discuti-las com seu grupo, enfim, questionar o próprio conhecimento(PCN +, ENSINO MÉDIO, 2002, p. 208), e, além disso, proporcionar o conhecimento tecnológico tão eminente no mundo do trabalho que futuramente o aprendiz terá de enfrentar.
É necessário compreender que os recursos tecnológicos devem fazer parte do cotidiano escolar não como ferramenta principal, mas como complemento para inovação pedagógica.
Através do blog, uma interface digital, é plenamente possível realizar um processo de aprendizagem cooperativa, construtiva, interativa e de cunho social, concorrendo para uma prática educativa que ofereça situações de aprendizagem em que o “eu” dê lugar ao “nós”, que se formem cidadãos os quais saibam conviver, partilhar, cooperar. O uso do blog como tecnologia digital educacional leva o aluno a aprender de forma interativa preparando-se para uma participação cidadã, pautada na colaboratividade e na compreensão do “eu” e do “outro”.
Além do estímulo à cidadania, estimula a prática da leitura e da escrita, concretizando-as por meio de processos produtivos, dinâmicos, dialógicos em todos os contextos de relações de interação social. Essa prática atrelada ao ambiente virtual concebe "uma tecnologia enunciativa que viabiliza o surgimento de um novo modo de enunciação digital" (XAVIER, 2002, p. 97) definida como hipertexto.
Trata-se de “uma forma híbrida, dinâmica e flexível de linguagem que dialoga com outras interfaces semióticas (MARCUSCHI e XAVIER, 2005, p. 171), viabilizando a emergência de uma nova forma de acessar, produzir e interpretar informações de maneira multissensorial que se constitui no modo de enunciação digital"(XAVIER, 2002, p.100).
Quanto ao hipertexto, é relevante observar a mudança na noção de autor e de leitor, dando a impressão de uma autoria coletiva ou co-autoria. No hipertexto, a leitura se torna uma escritura, já que o autor não controla mais o fluxo da informação. O leitor é quem determina a ordem da leitura, o conteúdo a ser lido e o formato da versão final de seu texto (MARCUSCHI, on-line). Nos dispositivos hipertextuais do blog, além da escrita virtual ou co-autoria, o usuário responde de maneira ativa ao texto, por meio dos posts, tornando-se o editor, inferindo nos conteúdos publicados por outras pessoas, expondo sua opinião.
A introdução dessa escrita eletrônica está conduzindo o ser humano a uma cultura eletrônica com uma escrita mais econômica, configurando a existência de um novo letramento – o letramento digital – que insere as práticas de ensino de língua portuguesa os novos gêneros de texto, denominados gêneros digitais. Não se trata de gêneros totalmente novos, mas híbridos, numa crescente diversificação de forma e usos comunicativos (MARCUSCHI E XAVIER, 2005).
Esses gêneros apresentam características próprias e dizem respeito a interações entre indivíduos reais, embora suas relações sejam virtuais síncronas ou assíncronas.
Como nossa preocupação é formar alunos leitores e escritores proficientes, é relevante analisar que nos gêneros textuais pertencentes ao ambiente digital, o uso da linguagem escrita é intenso. O que nos permite promover situações significativas e dinâmicas do ler e do escrever.
Mesmo não se tratando de uma interação face a face, tampouco síncrona, o blog, por sua própria constituição original como diário virtual, possibilita a formação lecto-escritora do estudante e rompe o artificialismo que se institui na sala de aula quanto ao uso da linguagem. (GERALDI, op. cit.).
Aos professores e estudantes, cabe participar de um processo conjunto para aprender de forma criativa, dinâmica, encorajadora que tenha como essência o diálogo e a descoberta. O blog, sem dúvida, tem muito a oferecer nesse sentido. Não se trata, apenas, de produtos de mercado, mas produtos de práticas sociais.
SILVA, J.S.S. Blog: tecnologia digital educacional à inovação de atividades de leitura e escrita nas aulas de língua portuguesa – monografia do curso de Especialização das Faculdades Integradas da Vitória de Santo Antão. Vitória de Santos Antão, janeiro de 2009
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