segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Produção de textos: experiências significativas com a escrita


A ocasião faz o escritor. É este o título de abertura do caderno de crônicas da Olimpíada de Língua Portuguesa – 2ª edição. Para os alunos da Escola de Referência Abílio de Souza Barbosa, Orobó/PE, “Crônica: a história e o tempo em nossas mãos” - nossa primeira oficina assim foi denominada.
        O primeiro encontro dos alunos com o texto crônica foi bastante suave, pode-se assim dizer. Propus a leitura de vários textos de Veríssimo, com seu atrativo humor; de Drummond, com seu aguçado lirismo; e de Machado de Assis, com sua sapiência e objetiva criticidade. Todos os alunos visitaram os painéis expostos no quadro. Leram os textos com curiosidade, sem entender certamente o que estava acontecendo. Fiz a leitura da crônica escolhida pela turma, além também da leitura de livros da coleção Literatura em minha casa realizada pelos alunos em pequenos grupos. A apresentação da Olimpíada foi cumprida com êxito.
         A maior recompensa desse momento, concretizado com cinco turmas, foi simplesmente ver a participação de todos os alunos durante a leitura dos textos, já que ler não a opção de atividade deles. Riam, achavam bonito, queriam cópia do material. O entusiasmo deles era uma forma de fortificação para realizar as oficinas.
        Outro momento marcante também aconteceu quando escutamos a crônica de Sabino “A última crônica”:

“Primeiro a gente não entendeu muito. Tava complicado.
Mas surpreendeu e emocionou”.
Alunos do 1º Ano, Turma E

Há palavras que o vento não leva e como afirma Madalena Freire(1996), “o registrar de sua reflexão cotidiana significa abrir-se para seu processo de aprendizagem”. Posso reafirmar que todo processo de realização das oficinas gerou um conhecimento profundo acerca desse gênero textual não apenas nos alunos, mas também nos professores. Um desafio, visto que a crônica não é um texto referenciado para os trabalhos escolares.
Propiciamos uma INOVAÇÃO às situações de produção de texto; um trabalho de fato sócio-interacionista, com situações contextualizadas, que aproximaram os alunos dos usos AUTÊNTICOS DA ESCRITA. Uma experiência de escrita realmente significativa em que os alunos escrevam “com uma FINALIDADE concreta, para um DESTINATÁRIO concreto e adotando um GÊNERO também concreto” (SILVA e MELO, 2007).
Além disso, as atividades contemplaram os EIXOS DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA (linguagem oral, leitura, produção de texto escrito e análise lingüística) para que os aprendizes adquirissem “uma maior capacidade de agir nas situações mediadas pela linguagem” (LEAL e BRANDÃO, 2007).
Nossa meta sempre será formar ESCRITORES AUTÔNOMOS, capazes de produzir seus próprios textos em função do seu objetivo e do leitor a que se destina sem desconsiderar o gênero; capazes de olhar o próprio texto e revisá-lo, reescrevê-lo até considerá-lo satisfatório para o momento, e “só há um caminho: ESCREVER TEXTOS E MUITOS TEXTOS em situações significativas de interação e refletir sobre esses tantos escritos” (LEAL e BRANDÃO, 2007). Desafio ainda maior!
Todas as atividades prévias foram realizadas. Partimos para a produção de textos. Os alunos fizeram diários para anotar as coisas que viam ao seu redor. A partir desse momento, propus que fizessem de pequenos acontecimentos histórias emocionantes. O trabalho foi complexo e instigante. Muitos se destacaram desde a primeira produção à luz até mesmo do tom de linguagem de alguns autores lidos. A maior dificuldade foi fazer com que todos participassem da produção escrita. Há turmas em que 99% dos alunos escreveram, como também há aqueles que por dificuldades com a escrita se excluíram. Mas, com a interpelação do professor e dos colegas fizeram seus textos.
Produzimos, revisamos e reescrevemos. Houve alunos, finalistas, que reescreveram três a quatros vezes o texto. E não havia cansaço. O que lhes instigava? A competição? Talvez. Mas o que víamos eram seus olhos brilhando só de pensar que seu texto havia sido escolhido para finalista na fase escolar. A comissão julgadora formada por professor, pais e educadora de apoio fez a escolha do texto e enviou para a fase municipal.
Nossos textos foram selecionados e aguardamos a escolha estadual.



O escritor de crônicas
Ivson de Aguiar Barreto
EREM Abílio de Souza Barbosa

Pela primeira vez iria escrever crônicas para um jornal em Orobó. Estava apreensivo. Era a minha primeira experiência como escritor. Naquela manhã me dirigi a Redação. A ansiedade retirou todas as minhas ideias. Fui em busca delas.
Saí da Redação. Peguei meu carro. Iria a cidade vizinha, onde ficava minha casa. Pelo caminho, apreciava a paisagem, linda por sinal. Até que me deparei com uma confusão. Em frente ao Banco da cidade, parei o carro e fui ver o que estava acontecendo. Estendido no calçamento estava o corpo de uma criança com o uniforme da escola e um homem chorando, clamando por ajuda. Meus olhos encheram-se de lágrimas e a revolta tomou conta do meu ser.
Aquela criança, morta, mais um cidadão, marcado pela violência e pela pobreza, que buscava um futuro melhor para modificar sua triste realidade, visando ajudar seus pais e seu país. Agora inválido pela inconseqüência cometida por pessoas insensíveis, mais uma vítima da falta de segurança.
A imagem desse pai e do garoto não saíam da minha cabeça. Segui no carro, voltei à cidade. Não era mais o mesmo.
Escrevi minha crônica. Tentei expressar em cada uma das linhas meu sentimento de indignação frente a esse crime, mas nada poderia fazer. Eu era um simples cronista, sem fama, sem dinheiro, porém pleno em compaixão.




Coisas que a gente não esquece
Ana Márcia Maciel – 1º ano, Turma A

Ao entardecer, peguei a chave do carro e fui até a cidade. Pelo caminho, me deparei com pássaros cantando, árvores beirando a estrada, borboletas pousando dentre as flores; me dei conta do que as outras pessoas estavam perdendo.
Mais adiante aquele leve sereno ao fim da tarde, baixou a poeira e levantou o cheirinho de terra molhada. Já na cidade só sentimos cheiro de esgoto e asfalto. Não temos o agradável canto dos pássaros e a bela visão das borboletas. Só ouvimos a buzina dos carros e o ronco ensurdecedor de seus motores.
Ao chegar, ali parada abastecendo o carro o meu pai, vi uma cena triste. Um menino levava uma surra do seu padrasto. Era tão forte, tão voraz, tão cruel. Seu rosto estava coberto de lágrimas que mais pareciam sangue, nunca vi tanta frieza. Nunca pensei que algum ser humano pudesse machucar alguém assim. Ainda mais uma criança indefesa.
O menino tentava escapar das garras de seu padrasto que parecia ser um leão faminto e sua presa era simplesmente uma criança que aparentava ter pouco mais de três anos.
O frentista me devolveu a chave do carro. Eu não quis mais ver aquela cena de terror e injustiça. Peguei a chave e fui embora para casa. Eu não conseguia tirar aquela cena da minha cabeça. Não queria pensar que aquela história terminaria como as outras: pais irresponsáveis que empurram seus filhos para orfanatos; filhos que não sabem se terão uma vida como a das outras crianças com amor, brinquedos, educação...
Lembro da minha infância. De quando minha mãe me contava histórias para eu dormir. E meu pai? Sempre me pegava no colo; todos os dias me dava um doce e sempre dizia: “Esse doce, minha filha, é para deixar sua vida mais feliz”.


Psiu! Aqui pra nós...
Josenaidy Oliveira – 1º ano, Turma F

Um comentário aqui, uma conversinha acolá. Há sempre quem diga:
- Eu não gosto de mexerico, mas a filha da vizinha... aquela ali, não vale a comida que come!
Ou até mesmo:
- Não quero fazer fofoca, mas me contaram... é segredo tá, a fulana aí da frente vive com um e com outro. É uma... não vou nem falar o que ela é.
Ninguém escapa. Em qualquer lugar, há sempre alguém olhando a vida do outro para fazer aquele comentário infame e desagradável. E as maioes vítimas são elas, as mulheres. Ah as mulheres... tadinhas. Sofrem tanto, mas venhamos e convenhamos, algumas dão motivos!
No lugar onde eu moro não é diferente. A fofoca é tão grande que quando não encontram de quem falar, acabam falando de si mesmos. Um exemplo disso é que se você chega pra alguém e fala: “Menina, vou te contar um segredo...” antes de terminar a conversa, todo mundo já está sabendo e tem uma versão nova da história.
Mas, em qualquer lugar é assim. Quem conta um conto, aumenta um ponto!



Juventude rebelde
Débora Sousa dos Reis - 1º Ano, turma A

Na minha cidade as coisas quase sempre não mudam. O tempo teima em não passar e as pessoas insistem em falar... falar da vida dos outros. Esse talvez seja o único passatempo.
Todos os dias, tenho sempre a mesma rotina, vejo sempre as mesmas pessoas e quase sempre faço as mesmas coisas. Porem, nada disso me deixa triste. O que realmente me inquieta é saber que muito jovens se deixam levar pelo prazer e pela “felicidade transitória”.
Carpe diem! É assim que eles vivem. Não se preocupam em construir um futuro promissor. Falta amor por si próprio.
Observo a cena em volta... Quase sempre a rua está escura e há pouca movimentação de pessoas e carros. Não há nenhum tipo de fiscalização policial.
Em um dia desses – monótonos - me deparei com uma cena lamentável. Na rua ao lado, foram construídas barracas que funcionam como barzinhos, onde rola muita música e bebidas. Com a falta de iluminação esses lugares são propícias para a prática de atos inconsequentes.
A noite já estava bem avançada quando uma discussão me tirou da cama. Fui ao terraço e, para minha surpresa, eram duas meninas como pouco mais de treze anos discutindo.
O que me chamou mais atenção foi o motivo da discussão: a disputa por namorado. Depois de muitos gritos, tapas e ofensas, a briga chega ao fim.
O rapaz que estava sendo disputado deixou claro que não queria nenhuma das duas.
Daí vemos a que ponto a juventude pode chegar. Muitas vezes, frutos da desestruturação familiar e da falta de diálogo.
Esses jovens são a nossa realidade. A geração do futuro.











9 comentários:

  1. OS TEXTOS DOS ALUNOS FORAM BASTANTE CRIATIVOS, PARABÉNS! UM TRABALHO QUE VALE A PENA SER ELOGIADO. SME-OROBÓ

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  2. tiaaaaaaaaa... gostamos muito de produzir esses textos. esperamos outros...

    Alunas 1º E

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  3. É teacher. não vou dizer que foi fácil. Estaria mentido, mais valeu foi muuuuuuuuito bom, viu...

    1º G

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  4. Parabéns para os crônistas que continuem assim ,
    Deus lhe abençõe .

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  5. adoramos o poema pois somos muito romanticas e a maneira com que ele escreve e muito interessante. parabens pelo trabalho.

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  6. josiele,maria gomes e jayne.28 de setembro de 2010 às 05:19

    o poema é otimo porque ele fala de uma maneira bela de expressar seus sentimentos e ousa as palavras.
    alunas;josiele,maria gomes e jayne.

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  7. esse poema nos transmite alegria, nos faz expressar seus sentimentos. alunas: maria de fatima e janielle

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  8. GOSTEI MUITO DO BLOG!
    BASTANTE CONTEÚDO.

    PARABÉNS PROFESSORA





    EDNILDO

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